Aconteceu... acontece... adaptação!

Chegámos à escola! Alguns chegaram de sorriso no rosto, outros com umas lágrimas perdidas, outros ansiosos e outros mais aventureiros.

Sejam novos alunos na escola, sejam alunos que já conhecem a escola, voltamos a falar em adaptação.

Este tempo que tem sido tão estranho de ser vivido trouxe-nos receios, acomodações, desconfianças e medos.

Mas regressámos e com o regresso voltaram a estar com quem tinham saudades. Voltaram a abraçar quem não viam há algum tempo. Voltaram a brincar e a partilhar esses momentos.

Estes dias de agitação tornam-se fundamentais para a coesão e para construção da noção de grupo. Há elementos novos a integrar, há posições que, entre eles, acabam por surgir de um modo natural. São crianças com as suas personalidades e, como em qualquer grupo de pessoas, existem líderes, existem conflitos, existem momentos em que conversamos, rimos, mas alguns momentos em que também choramos.

Como reagimos, como enfrentamos estes momentos, como nos damos?

Estes dias têm sido carregados de explorações, não apenas físicas, mas explorações de emoções, de conhecer o outro e saber como nos poderemos dar. Este desafio que nos colocam diariamente, leva a que todos se sintam parte deste grupo, promovendo o respeito, o cuidado e o bem-estar entre todos. Não é um caminho repentino e que se constrói apenas num dia, ou numa semana. É um caminho longo que necessita de um olhar atento dos educadores de infância, das assistentes operacionais e dos pais.

É um caminho que se faz a olhar nos olhos, a sentir o que lhes vai na alma, abraçá-los quando assim tem de ser, fazê-los sorrir quando o sorriso teima em estar escondido atrás de um nervoso miudinho. É um caminho que exige.

Este caminho é um caminho de construção. É um caminho longo para as crianças, para as equipas de sala e para os pais. Mas, tornemos consciente o papel de quem os acompanha. Tornemos consciente de que essa equipa, que os acompanha, faz o melhor, para que tudo ocorra de um modo natural, potenciando o mais importante neste momento, as relações, o saber estar, o saber cuidar, o saber receber e acolher.

Que caminho longo!

Este acolhimento que necessita de uma preparação, não ocorre sem fundamento, ocorre com uma intenção, definindo prioridades!

E não! As prioridades não falam a língua das folhas, dos números, das letras, das experiências, ou dos famosos temas ou conteúdos… falam sem palavras, com o coração, com o olhar sereno de quem os acolhe, com a valorização do sentir de cada um. É uma fala silenciosa, mas sentida. Esta fala torna-se visível a 4 braços, envolvidos, embrulhados e esse diálogo de sentimento, fá-los sentir uma prioridade única, uma relação securizante, fortalecida na simplicidade e na forma de nos entregamos a cada um.

Se choraram? Sim.
Se se bateram? Também.
Se riram? Muito.
Se brincaram? Constantemente.

Nestes dias não faltou o abraço, o colo e o aconchego. Não faltaram as mãos a acariciar as bochechas com algumas lágrimas que lhes saiam das janelas da alma. Esse toque tão simples, acompanhado de palavras pequenas, ou simplesmente da presença, tornaram-se suficientes para lhes mostrar o quanto queremos que ultrapassem este momento. E nós estamos a vivê-lo em conjunto.

Não havia pernas para tantos pedidos e era impossível que cada um ocupasse um lugar. Mas mesmo assim, houve presença, houve abraço sentido e palavras confortantes para cada um, com o seu tempo, ao seu tempo.

As idas à casa de banho não paravam, com os mais novos a irem de forma constante, ora porque ainda usam fralda, ora porque, simplesmente, o nervoso que sentem e o afastamento dos pais que carregam os faz visitar mais vezes a casa de banho.

Cada um com o seu tempo, cada um com o seu crescimento, cada um com a sua adaptação e nós respeitamos.

No fundo, é importante dizer e reconhecer que nem sempre estes tempos de adaptação correm como queremos, ou como desejamos. O tempo não para! Os braços tornam-se imparáveis e as solicitações são multiplicadas por 25, não apenas pela criança que levam para casa ao final do dia, mas pelo chamar do nosso nome de um modo constante.

Há roupas trocadas, há mochilas que se perderam e ainda não sabemos de quem são, nem através do cheiro das roupas! Não… ainda não conseguimos conhecer os vossos filhos de um modo pleno, não a esse ponto.

Há recados que no meio da confusão se perdem e mesmo de um modo esforçado, acabam por surgir no dia seguinte, porque nunca é tarde, porque neste tempo todos estamos em adaptação.

Acima de garantimos que a noção de grupo já se começou a construir e que estas semanas de adaptações são fundamentais para se criarem ligações fortes, que se tornam evidentes nas amizades diárias, o sentido de grupo, na valorização individual e no apelo à participação.

Estas ligações vivem-se e tornam-se ainda mais fortalecidas quando decidimos sair à rua, para fora da escola, sem comboio e apenas a confiar uns nos outros. Nestes momentos que construímos, de confiança, visitamos e exploramos pequenas esquinas logo depois da escola, em que as pedras nos fazem um convite a pequenas construções, a pequenos empilhamentos, em que transportamos o brincar lá para fora de um modo tão sereno, quanto aquele que queremos que sintam ao estar dentro da escola. Neste tempo de adaptações tudo é importante, e as relações constroem-se na sala e transportam-se para o exterior, complementamos o sentir.

Tantos momentos que se vivem e se viveram nestes dias de adaptações. Tantos momentos que se tornam impossíveis de transmitir, não que os queiramos ocultar, não! Simplesmente porque se tornam tão ricos, que são impossíveis de os tornar registados através de palavras ou até de fotografias…. Ficam registos fantásticos dentro de cada um deles, dentro de nós. As memórias, a construção de memórias.

Sim, as adaptações são difíceis para as crianças, para os pais, para os educadores e para os assistentes operacionais. Mas fiquemos tranquilos porque elas estão a acontecer, e acima de tudo, todos estão felizes e a dar o seu melhor.

#umacaixacheiadenada

Rui Inácio 


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