Votar, um Direito à participação na Educação de Infância (e na Sociedade)

Votar, é um direito.  

O dia de hoje torna-se, de facto, um momento que nos remete à reflexão, nomeadamente, porque somos chamados a cumprir com o nosso Direito e Dever Cívico, votar. Somos chamados a Ser Sociedade e a contribuir para que a mesma seja decidida por todos os que dela fazem parte. 

A sensibilização para este ato, conquistado no nosso país há 50 anos, é algo que deve ser valorizado e, acima de tudo, sensibilizado na Educação. Falar do direito ao voto é dar a palavra, é dar a possibilidade de escolha e de participação. 

Sensibilizar os mais novos para a importância deste ato, é algo que deve acontecer desde cedo, de modo a que, enquanto cidadãos, se tornem conscientes e ativos na sociedade a que pertencem. 

Viver o Jardim de Infância, o grupo, a turma (nos restantes ciclos), é reconhecer que são microssociedades, como tal, cada um assume o seu papel. São distribuídas tarefas importantes de serem cumpridas, de modo a que o grupo esteja em harmonia e cada um se sinta útil, valorizado e necessário ao funcionamento do grupo onde está inserido. Desde a creche, o sentido de pertença ao grupo é algo que é valorizado e que se tem em conta no dia-a-dia.

Os grupos de crianças, as turmas, são junções culturais, culturas familiares, que se cruzam e se relacionam. Existem confrontos culturais, confrontos de lideranças, confrontos que surgem pelas crianças e pelos valores culturais que lhes são transmitidos e que defendem, não fossem eles seres em influência e com influência. O grupo vive, desta forma, a interculturalidade baseada no respeito, nas vivências, na história e no respeito. É um meio em interação social constante. 

As eleições ou votações surgem na Educação de Infância, dando a hipótese de se escolher as histórias que desejam ouvir, as experiências, etc… acima de tudo, pretende-se que o poder de escolha, valorize a autonomia, a independência, a tomada de consciência e reflitam os interesse, as vontades e os valores de cada um. É, permitir que, em qualquer momento do dia-a-dia se dê a possibilidade à participação das crianças na planificação, na organização do espaço e do tempo, no quotidiano do jardim de infância. 

Permite-se que viva a democracia, o direito ao voto. 

As decisões que se tomam em parcerias, permitem que, enquanto seres em construção, se apropriem deste direito e tenham o poder de o argumentar e de tomar partes mediante as suas vivências, culturas e influências, constroem-se e são sociedade.

Olhar para a escolha de uma história, para os exemplos já foram enunciados, ou para outros tantos, é mais do que permitirmos que contem, que tomem conhecimento do livro, ou da experiência. É sensibilizar, desde cedo, para a importância que há num simples gesto de votar na história que querem ouvir, é a possibilidade de tomar uma decisão democrática, em que este processo comunicativo se torna uma participação ativa no quotidiano, na sociedade onde estão inseridos e, como tal, um gesto que os responsabiliza para uma participação consciente e ponderada. 

A intencionalidade com que se aplicam as atividades na Educação devem passar pela consciencialização do Ser, enquanto indivíduo que pertence a uma sociedade. Deve passar pela valorização da escuta e da possibilidade de verbalizar o que lhes interessa, sempre, com a capacidade de argumentar de forma consciente para os ideais e valores que defendem. Aceitar a opinião do outro, tornarem-se sensíveis às perspetivas contrárias, discutindo-as e construindo algo melhor em prol de um objetivo. Ser cidadão numa sociedade que respeito e cresce em parcerias.  

Estas microssociedades tornam-se, acima de tudo, uma construção social de diferentes contextos familiares, mas que se vive como uma democracia e um poder que nos foi dado há 50 anos e que deve permanecer pelas sociedades futuras. 

Por isso, quando voltarmos a fazer votações nas escolas, pensemos que estamos a permitir que sejam conscientes nas tomadas de decisões sociais, e, se assim o preferirem, estamos a treinar futuros cidadãos para o Direito ao voto e à participação ativa na sociedade a que pertencem.  

A Educação é a ferramenta que permite sensibilizar os mais novos, para a importância que existe no ato de votar, no ato de participar, no ato de Ser Sociedade, um processo que se inicia na infância e perdura ao longo de toda a vida. 


#umacaixacheiadenada


Rui Inácio




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