Valorizar o SER em construção: transições

A articulação e dar continuidade a processos de aprendizagem são aspetos que, realmente, são bichos de sete cabeças e que, no fundo, vêm revelar a desvalorização das fases anteriores ao ciclo em que se encontram.

Se cada vez mais há a defesa de transmissão de conhecimentos entre docentes, entre educadores, porque se continua a ignorar este processo de transmissão que facilitam e tornam as transições em momentos mais harmoniosos e centrados nas crianças?

Está na altura de olharmos para cada fase de vida das crianças de forma séria, de forma valorizada.

Cada momento é importante e fundamental.

Saiam do vosso pedestal e sejam humildes para escutar e ouvir quem passa e passou os últimos anos de vida com aqueles que irão receber. Mais do que perceber se o comportamento é adequado ou não, não é urgente perceber os percursos que delinearam, há muito além do comportamento.

Ignorar estes momentos de conexão e de partilha é ignorar anos de infância, crescimento e aprendizagens. É a desvalorizar a educação de infância e os colegas que, diariamente, se esforçam para gerir e construir um currículo em prol dos alunos, nos interesses, nas necessidades e dificuldades. E, mais grave, é desvalorizar todo o percurso, aprendizagens, conhecimentos e vivências que as crianças viveram.

Olhem para o que acontece na educação de infância e valorizem o que é feito. Práticas que pressupõem a centralidade nos interesses reais das crianças, torna-los agentes ativos e participantes neste processo de construção partilhado!.

Ser Educação não é valorizar os currículos, os programas, mas sim, valorizar o SER em construção.

Entramos numa fase em que, cada vez mais, é necessário relembrar que há a necessidade de olharmos de forma séria para cada etapa, em que há a necessidade de ligação entre as diferentes fases em prol das crianças. E, para que as transições sejam harmoniosas existem algumas atitudes que são fundamentais: empatia, valorização profissional, valorização do SER criança, potenciação dos conhecimentos traz e, muito importante, abandonar o papel de professor transmissor e detentor de todo o conhecimento

Onde andam as redes entre docentes?

Onde estão construídas as ligações entre eles que valorizam as crianças e as linguagens entre as fases de Educação?

Não basta dizermos que temos práticas diferenciadas, quando em situações de transições continuamos a desvalorizar o que viveram, o que potenciaram, as dificuldades e o processo pelo qual passaram e continuam a passar.

Não existem fases mais importantes do que outras, não existem docentes de 1º ciclo, educadores docentes de disciplinas mais importantes do que outros, todos somos importantes, todos somos fundamentais no processo de construção.

Por isso caros colegas, sentemo-nos, olhemos para o que realmente importa: as crianças.

Deixem, por favor, os egos, valorizem as amas, as creches, os jardins de infância, o 1º, 2º, 3º ciclos o secundário, o ensino superior, todos fazemos parte deste barco que chamamos Educação, e, se queremos que este mude e seja de facto um ambiente valorizado, a mudança começa em nós, na forma como valorizamos e respeitamos os outros profissionais de educação, os restantes ciclos e as restantes fases da educação.

Sim, há necessidade de criarmos relações, respeito, empatia e entreajuda, porque se cada um fizer o seu papel e criar ligações com base nos alunos e nas crianças, o nosso papel muda.

Somos comunidade e, como tal, existem responsabilidades, sensibilidades e respeito.

Que consigamos olhar além da nossa fase da Educação. Que saibamos acolher as crianças e consigamos criar diálogos fundamentais que valorizam a Educação e, não somente, a prática que cada um desenvolve de forma isolada em sala.

Não somos ilhas, somos continentes ligados e que não sobrevivem sozinhos.

Por isso, mais uma vez peço, deixem de parte os egos, sejam humildes, o suficiente, para reconhecerem que todas as palavras contam, que as atitudes marcam, que o exemplo que damos, é o exemplo do qual se apropriam.

Sejam exemplos positivos e de referência. Não sejam marcas negativas na vida das crianças, dos alunos e dos colegas.

Qual é a memória que querem deixar?

Por isso, reconheçamos o que fazemos e o que priorizamos.

Saibamos acolher e ser acolhidos, saibamos valorizar cada elemento e viver o verdadeiro espírito de equipa em que todos, temos um papel fundamental na vida das crianças.

Saibamos simplesmente, Ser.


Rui Inácio

#umacaixacheiadenada

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