E aos pais, quem os acalma?
A preocupação leva a que se pense em tudo, em todas as situações que podem acontecer.
As reuniões foram acontecendo. Alguns pais fizeram uma lista de perguntas que tendiam a não terminar, outros disfarçavam a preocupação e a ansiedade para o início do ano.
Há sempre preocupação, há sempre ansiedade, há sempre o desejo de ser confortado e de acalmar os seus anseios.
O conhecimento prévio de quem os acolhe é fundamental, a relação que se cria com os pais reflete-se no comportamento das crianças e, como tal, devemos preparar o início do ano e torná-los parte deste processo, a que chamamos educação.
Mas o dia vai-se aproximando, os pequenos sentem o nervosismo dos pais e, como tal, apropriam-se desse nervosismo. Apesar de tentarem esconder esse sentimento, não lhes passa despercebido.
O aconchego, o abraço, a segurança, a confiança, são fatores que motivam e que alteram esta nova entrada, esta mudança!
Condicionados pela situação atual, o receio aumenta, mas sejamos conscientes: O que promovemos nestas relações? O que fazemos para que todos se sintam bem, seguros e emocionalmente estáveis?
Os tempos correm, exigem um empenho de todos, um envolvimento que permita construir um acolhimento confortável para todos. A nossa palavra, a nossa forma de estar, a nossa permissão no envolvimento dos pais torna-se um fator preponderante no dia-a-dia e, principalmente, no primeiro contacto que estabelecemos.
O dia chegou.
Em casa o relógio não para, há uma rotina a iniciar, há uma adequação e adaptação aos novos horários e esse nervosismo paira no ar, com o intuito de se cumprirem os horários que as escolas impõem. São as novas rotinas que afetam a vida das famílias que frequentam as escolas.
Há quem se chateie, há quem grite, há quem seja impaciente, há até quem deite umas lágrimas por não entender o porquê de tanta pressa. Estes passos que devem ser pensados por todos, que devem ser tornados conscientes de um modo cuidadoso e ponderado afeta, principalmente, os mais novos.
Esta pressa de se viver o dia-a-dia, e principalmente a manhã, leva a que, muitas vezes, a ansiedade aumente, o nervosismo seja ainda maior e o momento que se previa de tranquilidade se torne um tormento e um tempo de stress familiar.
Os tempos de cada um deixam de ser únicos e passam a ser de um conjunto familiar, com horários a cumprir e com penalizações.
Não há tempo para birras e se as há, nem sempre se lida da melhor forma com elas, porque, mais uma vez, o relógio não para.
À porta da escola, as crianças aguardam a sua vez de entrar, perfiladas com os seus pais que lhes agarram a mão, de modo a transmitir-lhes confiança. Mas eles próprios sentem-se a caminhar por pedras inseguras… Sabem que será um passo importante, mas que é duro de tomar. Estão a crescer e, neste momento, estão a entregar a alguém, que acabaram de conhecer, o mais importante das suas vidas.
Há abraços longos. Há lágrimas que caem acompanhadas de palavras como, Não quero, mãe. Mas, com um nó na garganta e com uma fala atrapalhada, surgem palavras encorajadoras, que incentivam os mais pequenos a largar-lhes o colo e a serem acolhidos nos colos de quem os irá receber de um modo único e seguro.
Há, ainda, as palavras que dizem, amo-te, gosto de ti, que se revelam como verdadeiros exemplos de afeto, de relação, de amor único e que nos transmite, a nós profissionais de educação, um recado subtil, Por favor, cuidem do meu mais que tudo.
É um compromisso, é uma entrega, é uma relação que se cria desde o momento em que são aceites nas salas.
Aos poucos ganham a confiança e libertam-se dos pescoços dos pais. Agarram-se aos pescoços dos cuidadores, sem querer olhar para trás. Será um novo espaço, um novo momento, de companheirismo e de viver a educação de infância.
Estas relações que se criam, desde o primeiro momento, levam a que se tranquilizem os pais num processo de construção, que potencia pontes fundamentais e únicas para o desenrolar de uma boa prática que respeita as crianças, mas que tem os pais como parceiros e elementos envolvidos.
Ao colo dos cuidadores, as crianças deitam umas lágrimas. Os corações tocam-se e sente-se um bater acelerado que transparece a ansiedade e o medo de se afastarem dos pais.
Lá fora, ao portão, os pais de óculos escuros deixam cair as lágrimas e o choro torna-se compulsivo. É um afastar que, apesar de ser só por algumas horas, que dói, que faz reviver os passos tomados antes deste momento, mas que no fundo, faz sentir que as crianças estão a crescer.
Neste momento, quem os acalma?
De um modo discreto limpam as lágrimas e tentam acalmar o coração mais acelerado, tentam acalmar as lágrimas que começam a ser mais espaçadas e o sentimento de confiança começa a surgir. De facto, as palavras trocadas ao longo do tempo de acolhimento, de reuniões, começam a surtir efeito, começa, aos poucos, a surgir a tranquilidade.
Apesar de estarem já no seu local de trabalho, o pensamento está na escola. Olham de forma constante para o telemóvel. Agarram nele e voltam a pousá-lo. Resistem à vontade de ligar para a escola e de tentar saber alguma notícia em relação ao bem-estar dos pequenos.
Neste período de adaptação, a comunicação que se cria com os pais é tão importante, que a tranquilidade que transmitimos será aquela que os próprios pais também se apropriarão.
Não nos podemos deixar ficar isolados nas escolas, porque sabemos quais são as nossas prioridades: bem-estar das crianças. Mas o bem-estar dos pais fará com que a confiança e a segurança seja uma constante e essa será transmitida pelo exemplo.
É a relação que devemos criar. Não existem receitas, existe sim o conhecimento de cada família e a capacidade de cada um criar momentos eficazes de comunicação. O que esperam de nós, como nos damos a cada família?
Mas não os poderemos esquecer. Pensemos na transição de todos e com todos.
#umacaixacheiadenada
Rui Inácio
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