Que se faça um minuto de silêncio, em memória da educação

Apesar do frio ter voltado, a rua continua a ser um ótimo espaço de brincadeira. O céu mantém-se azul, as nuvens correm perdidas pelo céu e, sem se aperceberem, por cima das cabeças pairam nuvens cheias de imaginação e criatividade. 

Já alguma vez se deitaram no chão a olhar as nuvens a imaginar a que forma se assemelham? 

Sem material preparado, só o chão como suporte e o céu como limite, cria-se uma oportunidade de brincar com a mente, de fazer cócegas à imaginação, de libertar a criatividade. 
Deitados, ou em pé, cada um imagina e cria como quer, como lhe apetece, como necessita. 

Soa, simplesmente, a um momento de tranquilidade, de equilíbrio, de relaxamento, de atenção e concentração, com tantas outras competências possíveis de explorar,...

Deitem-se e olhem o céu. 

Quantos de nós, saem do seu alto pedestal e se deitam junto deles, no chão? Quantos abandonam uma figura vertical e se tornam exemplos de diversidade, de criação, imaginação e liberdade? Se nós não o fazemos, se nós não o demonstramos, como queremos que eles o façam?

Coelhos, carros e elefantes. Golfinhos, baleias e tubarões. Cavalos-marinhos, focas e girafas... Verão tudo aquilo que a vossa imaginação permitir... Até algodão doce podemos ver, sentir, e, com muita imaginação, provar e cheirar. 

Estas capacidades, inatas, nas crianças, tornam-se tão facilmente amputadas pela pouca abertura dos educadores, das auxiliares, dos professores e animadores. Estas capacidades de olhar, só de olhar, tornam-se raras e inexistentes. 

A necessidade de registar tudo o que é dito, tudo o que é feito, como forma de mostrar o trabalho,  afasta-nos das potencialidades dos momentos, de saborear e de sermos exemplos, que despertam a atenção e a curiosidade. Isolamos estas potencialidades e valorizamos o lápis e a folha branca, para tracejarmos chuva, nuvens e rastos de pássaros a voar, que por sinal, enquanto voam, nem rasto deixam ... 

As nuvens continuam a correr, os dedos seguem-nas, na ânsia de conseguir contar cada nuvem que passa apressada. Ora mais clara, ora mais escura, seguem carregadas de expressões, de imaginações, sonhos, seguem a transbordar de imaginação e criatividade desperdiçada. 

Só o céu, só as nuvens que ali passam, todos os dias, são só isso. Algo impossível de tocar, impossível de interagir... Impossível de criar boas oportunidades... 

E assim passam, a toda a pressa, sem lhes permitir que toquem. Enquanto crescem, os pequenos, são forçados a deixar de sonhar, de imaginar, de criar e ao invés de nuvens cheias de tudo, tem, agora, à sua frente folhas cheias de nada, cheias de orientações, cheias de precisões, de caminhos já trilhados e que devem ser seguidos de forma rigorosa. 

Cortam-se as raízes, aniquila-se o pensamento, a motivação, a criatividade e a imaginação, isola-se a socialização e valorizam-se tracejados, formas perfeitas, orientações sem possibilidade de errar, traços impostos e sem qualquer interesse para quem os realiza. 

Mas é assim a educação, um chão sem fundo, sem base e sem valorização, um espaço longe de partilha, um momento afastado da compreensão, do respeito e valorização das crianças. 

Assim é a educação, um chão sem nuvens e sem sonho, uma terra já trilhada, cheia de rebanhos que seguem ordenados pelos pastores que os guiam, sabe-se lá para onde. Um caminho obrigatório de seguir por pastores e rebanhos, um caminho que não prevê resposta, munido da ausência da capacidade de questionar, de refletir e de justificar o porquê dos passos que seguem. 

É assim a educação, um caminho a seguir, sem sequer reconhecer a personalidade de cada um, em que as ovelhas dos rebanhos são iguais, em que, os pastores seguem à risca os manuais, em que, todos se tornam meros repetidores. 

É assim a educação, um grupo de pastores, vários rebanhos que seguem sem norte, sem reconhecer os interesses reais de cada ovelha... São ovelhas que alguém, em rebanho, guiados por um pastor, lhes mostra o único caminho a seguir: não questionar, não pensar, não refletir. 

Que se valorize a sobrevivência, é esta a educação. 

E, se assim é, que se faça um minuto de silêncio, em memória da educação. 

#umacaixacheiadenada

Rui

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