"o meu filho faz 5 anos, o que pretende fazer para a passagem para o 1 ciclo?"
Vindos de tempo de férias carregam na mochila as
experiências que tiveram no verão.
Passado um mês tornam-se, calmamente, evidentes as
necessidades de cada um, os interesses, as dificuldades, mas mais do que isso,
as curiosidades.
Este conhecimento prévio, esta observação inicial, torna-se
de tal forma rica somente pelas observações, que tende a incluir todas
as áreas de conteúdo e, não apenas, as áreas socialmente mais valorizadas:
português, matemática. Esta observação torna-se de tal forma importante, que
apoia a brincadeira e tudo o que dela parte. Aliás, observa-se durante o
processo do brincar, sem a necessidade de preencher documentos padronizados,
onde de acordo com o "diz que disse", importante é ter evidências,
mesmo não sendo adequadas ao grupo, mesmo não sendo elas reflexo da
aprendizagem e do conhecimento que fazem e/ou trazem de casa. Perante isto
bastaria, no fim, aplicar uma quantificação de nota, para que, se conhecesse o
nível quantitativo das crianças.
Imaginam, quão fácil seria se assim o fosse? As planificações
surgiriam por níveis, os grupos definidos por grupos de trabalho com o mesmo
nível, aprendizagens "mais eficazes" e tudo correria melhor.
Ao longo de cada dia é evidente o esforço que vai sendo
feito para conseguirem ultrapassar os objetivos a que se propõe. É interessante
verificar a capacidade que vão tendo para se envolver no que desenvolvem, mas
mais evidente é, verificar a dificuldade do adulto dar resposta a todos estes
pedidos de atenção. É evidente a individualidade de cada um, e assim constroem
a noção de grupo, cheios de diferenças, de individualidade, de características
peculiares. Mas, a observação, a observação inicial será a mesma. Mesmo sabendo
que não representa o estado real das crianças, mesmo sabendo que. no meio de
tantas folhas se perde o mais importante, as experiências que não se registam
em papel, mas que foram vividas de forma intensa e empenhada no contexto
familiar ou até mesmo em contexto escolar.
A nossa gestão curricular torna-se uma verdadeira guerra. E,
conseguirmos, enquanto educadores, dar resposta a todos estes pedidos um enorme
desafio. Aplicamos as estratégias que consideramos as melhores para o grupo.
Utilizamos técnicas pedagógicas que vimos noutro grupo e que resultaram, logo,
aplica-se também no nosso grupo. Executamos planificações de tempos anteriores
porque ficaram arquivadas no computador, e apesar de tudo, resultaram há 5
anos, portanto, resultarão este ano.
Mas, apesar de tudo, baseamo-nos nos interesses
"reais" dos indivíduos que estão à nossa responsabilidade.
E, sabendo que teremos crianças que irão transitar para o 1
ciclo, a responsabilidade, socialmente imposta, torna-se acrescida.
Contabilizam-se dificuldades, valoriza-se o erro, expõe-se
situações que tornam as crianças mais frágeis, sujeitam-se estes pequenos
inventores, criadores, "brincantes", a estarem sentados e a serem alvo de um
excessivo rol de atividades preparatórias para o GRANDE ciclo que aí vem. E ao
invés de existir uma consciencialização do trabalho real e necessário para esta
transição, continuamos a insistir que, o mais importante de ver desenvolvido é
a motricidade fina, através de um retângulo branco, a que chamamos folha, com
impressões e orientações que obrigam os mais pequenos a seguir, sem entenderem
bem o que se pretende com aquilo, ou com que fim o estão a realizar.
Mas é preparação pré-escolar, e mesmo sem questionar, isso
sim é importante.
De facto, o pré-escolar é a preparação para esse grande ciclo,
mas que pode ser iniciado logo no início, não apenas nos 5 anos. As regras que
vão sendo negociadas, as relações sociais que vão estabelecendo e apoiando cada
brincadeira, as construções que vão desenvolvendo, o interesse, a motivação, a curiosidade,
a capacidade de resolver problemas, o espírito crítico e científico, etc.. tudo
isso se torna possível de explorar desde cedo, e não apenas quando atingem o
chamado ano dos Finalistas!
Mas e o brincar? Será assim tão difícil de entender que o
brincar possibilita todas estas competências? Que ao brincar uma criança se desenvolve
de forma integral, holística e transversal?
Uma criança não é compartimentada.
Mas, a preocupação para o 1 ciclo aumenta com o aproximar da
idade obrigatória para essa transição. E, claramente, os pais assumem esse
último ano como algo de importância extrema. Afinal, escrever o nome, as letras
e os números, a necessidade de verem uma pasta cheia de trabalhos torna-se
reflexo de um ano cheio de aprendizagens e conhecimentos adquiridos, mesmo que
tenha sido passado entre quatro paredes e sentados à mesa com os seus melhores amigos:
o lápis de carvão, a borracha e a ficha.
Não é verdade.
"Professor, o meu filho faz 5 anos, o que pretende
fazer para a passagem para o 1 ciclo?"
A esta pergunta, uma resposta...
Com olhos postos no futuro, estarei empenhado para que essa transição corra bem. Farei
com que o seu filho tenha um ano cheio de experiências, que o recorde como um
ano de aprendizagens, de vivências, de companheirismo, em que tudo o que seja
feito, valorize o interesse do seu filho, o empenho e motivação, o desejo de
ultrapassar dificuldades, a continuidade da construção da sua personalidade,
respeite a sua individualidade e se, tudo o que estou a dizer, e muito mais,
não for entendido, memorize esta palavra: brincar, porque através dessa
atividade desenvolve todas estas competências! Estas e muito mais!
Ao invés de estar preocupada com a quantidade de fichas que lhe darei, preocupe-se em permitir que deixem o seu filho ser criança. Preocupe-se em permitir que ele faça aquilo que melhor sabe, brincar, porque é dessa forma que irá aprender todas as competências necessárias para a transição para o 1º ciclo... Dar-lhe-ei todo o apoio, para que ele consiga atingir todas essas competências!
#umacaixacheiadenada
Rui
Excelente artigo! Parabéns!!
ResponderEliminarMuito bom este artigo, comungo!
ResponderEliminarMuito bom Rui, subscrevo na íntegra. Desta forma teríamos crianças mais felizes e a viverem o seu tempo de ser criança.
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